7/8/1986 Bizz (7-8-86 The Pier, New York Show Review)
Ao Vivo : A dor The Pier (NY) "Noite passada eu tive um sonho terrível. Sohei que eu era o chefe dos carrascos, e tinha de escolher quem ia morrer e quem ia viver. E tinha de executar os condenados. Acordei suando."
- Robert Smith
Eu so queria saber quem é que cuida do cabelo de Robert Smith. Afinal de contas, são dez anos de existência do Cure e o cabelo dele ganha ainda de todo punk que queira chegar à lua com suas madeixas. Sob os efeitos de luz de Smith brilhava na noite de verão, e o sol nem tinha conseguido sumir no horizonte. Tudo ao ar livre, no Pier 84, um dos lugares mais cheios de ar para o rock respriar nesta cidade sufocada.
Depois de meia hora com os 10000 Maniacs, a entrada do Cure foi um alívio. Os Maniacs têm de aprender, ou vão ficar a vida inteira enchendo tempo antes do concerto dos outros. Uma chatura, mesmo com uma composicão todinha em ritmo de samba. Af, às margens do Rio Hudson, com um prota-aviões de um lado e os prédios de Nova York ao fundo, comeca a màquina de fumaca do Cure, luzes azuis, sons de outro planeta, crescendo, crescendo. Nem parece que rock é uma invencão americana. Os garotos de Sussex, Inglaterra, têm mais forca que ninguém, quando atacam "Strange Times", "Killing An Arab", "Let’s Go To Bed", "Speak My Language", até "Boys Don’t Cry", cheia de concessões pop.
O Cure fala de um mundo sem esperancas, mas sua música é exatramente o contrário do U2, que tem aquela cara de quem fez corretamente suas licões para o professor de Ciência Política. O U2 faz hinos. O Cure berra de dor.
Não sei se Laurence Tolhurst devia ter trocado a bateria pelos teclados. Ele e Smith, os dois únicos que restam do Cure de dez anos atrás, continuam pondo os trilhos por onde a locomotiva da banda viaja. Mas, ao contrário da voz eletronica e da guitarra rouca de Smith, os teclados de Tolhurst parecem querer mais virtuosismo que tragédia. O Cure é uma banda trágica, não uma banda teatral. O punk era teatral o pos-punk não pode ser. Quando Smith estava na rua, em Veneza, ele quase foi apedrejado. Depois, comentou: "Meu Deus, eu não sou um músico de rock. Eu sou uma pessoa do jeito que sou, o Cure é apenas a forma como eu me expresso". Dá para entender. Mas, quando o Cure fizer sucesso demais, é claro que essa capacidade danca.
Não acho possível fazer qualquer restricão ao Cure, a não ser esta: dez anos depois, eles estão fazendo uma croisa que ainda se parece muito com rock ‘n’ roll. E, do Cure, o que a gete espera nem é mais música: é amor. Logico que escutei os momentos de bobeira da banda, como "The Lovecats", "The Caterpillar", "In Between Days". So que a forca do resto é major.
Pode ser até que Robert Smith leve seu cabeleireiro mais a sério do que a decadência do mundo ocidental. Não interessa. A música que ele faz é muito major que ele. Nem depende dele. Se ele assina em baixo e recebe os direitos autorais, melhor para ele. Mas o verdadeiro compositor dos melhores momentos do Cure não é Robert Smith, não é ninguém. Somos todos nos.